segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pode até ser meio bosta, mas nem fede tanto assim

Era uma vez um lugarzinho no meio do nada, sem sabor de chocolate, e com um cheiro não muito agradável de estrume de vaca em determinados pontos nem tão isolados assim. Bem vindos ao subdesenvolvimento emergente interiorano, posto que já temos política do pão-e-circo com direito a eventos monumentais para deleite de toda a massa populacional, coca-cola e lan houses - sendo que a saturação do último item no comércio local toma proporções absurdas chegando a pelo menos uma a cada esquina tornando a inclusão digital cada vez mais acessível, fazendo da internet um ambiente cada vez mais depreciativo (ou não, quem sabe).

Hipocrisia nunca foi muito a minha praia, logo, obviamente admito, cidades como a minha tem lá seus encantos. Belas paisagens, ruas históricas (tipo a VPA), com pontos de diversão altamente atrativos no meio do mato e afins, mas não estamos numa daquelas propagandas de cidades turísticas pelo Brasil que passam na Globo nos intervalos, ora bolas.

Estamos falando das cidades rotineiras que preenchem este país de cabo a rabo e que raramente passam no Jornal Nacional, coleguinhas. Onde pode não haver a mesma violência em níveis exorbitantes, mas há bocas de crack acessíveis ao atravessar a rua, homens são mortos à facadas em praça pública no meio de festividades locais e, o pior de tudo, jovens carentes de boas influencias musicais, gerando um surto de sertanejo universitário e músicas internacionais de renome sendo plagiadas e dizimadas por versões forrózisticas que acabam por tirar delas toda sua essência (uma vez que "Meu anjo azul" está para "Because of You", assim como "Paulinha" está para "Can't Live", ou seja).

Estamos tratando daquelas típicas sociedades retrógradas (com suas exceções, obviamente) mas não há como negar nem fingir que as pessoas discutem, opinam sobre, e se importam com a vida alheia, mais até do que com as suas próprias. Ideais extremamente ultrapassados, onde o que é diferente deve ser exterminado - que vão das roupas fora do comum e cabelos de cores não-convencionais, até as questões sexuais, amorosas. Estilo e personalidade muitas vezes combatidos porque ensinam as criancinhas que "é bonito ser igual aos outros", em todo o abrangente significado que a expressão pode ter.

Podemos não ter shoppings, cinema e nem mesmo McDonalds por aqui. Só que, assim como nas grandes cidades, ainda temos esgotos a céu aberto, precariedade na saúde pública, políticos corruptos, gente fútil - apenas em diferentes proporções (para maior ou menor). Podemos não ter grandes edifícios lotados de gente importante, caos no trânsito, nem transporte coletivo. Mas a gente já tem até favela, refrigerante com gás, tráfico de drogas com estágios alarmantes, internet e tv a cabo. Além, é claro, daquele cheiro bom de casa de vó, do gosto maravilhoso daquela boa, típica e velha comida caseira que só pedaços de fim de mundo esquecidos por Deus podem ter.

Ah, e só um detalhe: A gente ainda pode respirar em paz sem ter o pulmão manchado pela poluição ou perfurado por uma bala perdida - por enquanto. Olhando de perto, vivendo na pele, pode até ser meio bosta, mas nem fede tanto assim. (Y)

Beijonãomeliga ;*
@luiza__

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cu


Com certeza (ou não) você já ouviu aquela piadinha infame: Cuiabá. “Iabá” = do mundo, e cu... é cu mesmo. O autor disso, que deveria ser uma piada, com certeza não conhece a minha cidade, ela sim é o CU do mundo. Além dela está localizada no interior (do estado) do nordeste (do país), num estado chamado de Rio Grande do Norte (que nem tem rio, nem é grande e muito menos é no norte (by: @luiza__ ), e seu nome oscila entre umas das partes mais intimas de alguém. Eis o nome: CU(rrais) (n)OVOS, nome perfeito para uma cidade que é tão pequena quando um ovo e tão apertada quando um cu (digomesmo).
Currais Novos... Típica cidade do interior, charretes nas ruas sem calçamento, e a bebida mais conhecida é o “ponche” –NOOOOOOOOOOOT. Típica cidade do interior, calma, sem violência (tirando a cracolândia recém criada, e o garoto que foi assassinado ano passado à facadas no meio da praça, e a boca do pó nas vilas de vizinhança avulsa) apenas dois ou três “points” para os amigos se encontrarem, 90% dos cidadãos freqüentam a missa aos domingos, crianças brincam nas ruas, pessoas de mente fechada e desinformada, piercings e tatuagens ainda são coisas do demônio, velhinhas (ou não) ficam sentadas nas calçadas falando da vida alheia.
A Cidade de nome cativante tem seu "lounge” definido em musicas de forró, swinguera e entre outras musicas que suas letras são compostas por no mínimo três, quatro ou cinco palavras (ela ta beba, ta doida, ta beba, ta doidaa, bebaaa, doidaaa), frases ininteligíveis (barabarabara berêberêberê BereBerebere Barabarabara ) ou pessoas que usam seu corpo para um trabalho árduo (amor de rapariga é que é amor, amor de rapariga é bom de mais, amor de rapariga não tem confusão, não tem briga não...) ou quem sabe, amor, um amor lindo e singelo (Amor é feito capim, mas veja que absurdo, a gente planta ele cresce, e ai vem uma vaca e acaba tudo), quiçá carinho (Mamãe ta dodói, papai da da beijinho que passa ...). Musicas que tocam inúmeras vezes em suas inesquecíveis festas, onde você provavelmente terminará bêbado, ou rindo de algum amigo por ter consumido de mais nosso velho amigo etílico, com os pés doendo de tanto ser pisoteado, ou quem sabe até grávida, porque se teve uma festa aqui, que nem mesmo uma menina não tenha acabado grávida, eu não sei qual foi.
Sem contar com as perspectivas para o futuro da maioria dos filhos dessa terra. 30% pensam em estudar, ir para uma faculdade, ganhar dinheiro, e nunca mais voltar aqui (ou não). Os outros 70%, normalmente, vão trabalhar de mototaxista, ou de frentista, ou numa lan house, ou na empresa de seus parentes (não desmerecendo essas profissões, mas nunca ouvi alguém dizer: meu sonho é ser mototaxista, ou , nossa como o cheiro da gasolina me atrai, serei frentista) ou quem sabe até vendendo o próprio corpo para conseguir por comida dentro de casa (ou não), e ficar falada pela cidade inteira, e ser perseguida, cortejada e sustentada pelos ouvintes assíduos de forró e amantes de paredões (me lembra até outra musica: Paredão que é paredão, não toca outra, só toca garota, só toca garota )enquanto suas namoradas estão em casa levando (ou pondo) belos pares de chifres em sua cabeça.
Bom, como aqui não tem nem um lugar em que eu possa gritar até minha raiva esvair-se, sem ser pego pelo manicômio por justa causa devido ao ódio que tenho por esse lugar, esse texto foi mais um desabafo, um bem vindo a minha vida. E pense duas vezes, se sua cidade tiver cinema, shoppping, praia, parque, pessoas bonitas e legais, musica boa entre outros, antes de dizer que sua cidade é uma droga.
@JonaasF