segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Carta ao Ministério da Educação

Ao Ministério da Educação,

Muito prazer, meu nome é Otário. Destinado a perecer no comodismo de uma nação sem respeito. Sou eu, você não reconhece? Mais um daqueles tantos números de inscrição, engraçado não lembrar - até cartão mandou lá pra casa, pra que eu confirmasse e por osmose concordasse com todo esse circo de lona tão abrangente, a ponto de cobrir o país inteiro, fazendo de tantos outros como eu meros palhaços a ilustrar o palco principal.

Na ponta dos cascos e fora do páreo, orelhas de burro em distribuição gratúita fosse norte, sudeste, centro-oeste, sul ou nordeste. Injustiça não é a palavra que eu procuro, posto que "cancelamento", até mesmo a mim, parece a melhor solução. O que eu quero é mais um sinônimo de incompetência, pra poder justificar as dez horas que eu perdi, marcando num gabarito invertido as doses cavalares de questões: umas bem elaboradas - reconheço, as imbecis, aquelas confusas e bom, as que não estavam lá.

Emergente, todavia negligente Brasil, com seu povo reclamão e sem protesto algum concreto em mãos. Se antes estudantes pintavam a cara por seus direitos, ou faziam passeatas pelo progresso - aquele estampado na bandeira - enfrentando, respectivamente, a apatia da aceitação e a ditadura repressiva, hoje não parecem significar tanta coisa assim, já que as manifestações desta geração na qual revoltadamente me incluo, têm em seu resumo "xingar muito no twitter".

Mas que posso eu fazer sozinho, se de tantos tão pouco sou? Que me resta com toda esta bagunça, se mesmo cidadão não tenho liberdade para expressar-me, se mesmo indignado nada tenho, além claro dos meus ideais? Cadê os tantos como eu - diferentes dos muitos acomodados esperando que tudo se resolver sozinho? Cadê aqueles sem medo de exigir mudanças, de lutar pelo melhor futuro dos que ainda hão de vir, aqueles muitos como eu, chamados de "otário" por amor às causas "perdidas"?

Nos sobra, não só um nariz e sim toda a vestimenta de ridicularmente completos palhaços, mediante a falta de respeito acoplada a todos esses erros sucessivos nomeados em conjunto de "Exame Nacional". Uma pena. Pena que seja o cancelamento o unico meio de reparar os danos causados. Mesmo que por enquanto eu seja só um número, eu sei que como brasileiro, estudante e dedicado a buscar um futuro decente - Eu não sou só mais um, mas espero que sejam muitos junto comigo.


Sendo assim, me despeço.
Grato pela atenção que a mim
não foi dispençada no momento oportuno.