segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ele, eu e ninguém que se importe (Parte III - Final)


- Quero que vá comigo esta noite. - Ele falou no imperativo como uma ordem à uma subalterna fulaninha qualquer, uma fulaninha qualquer que ele queria como compania na melhor festa do ano. Eu era a fulaninha, mas ainda pior, eu QUERIA ser a fulaninha dele. Ai como eu sou estupida, mas por que eu me negaria a ser mais dois dedos deplorável do que eu ja sou em querer ser a fulaninha dele?

- Pode ser. - Tentei dizer o menos afetada que pude, olhando sua barba rala que se sobrava um pouco ao longo do maxilar e pouco cima de sua boca... Que boca. Eu te amo. Puta merda, como amo esse infeliz. Eu amo o cabelo ruim porém macio, o nariz reto e elegante, o hálito doce de Trident de menta. Filho da puta, como eu odeio amar tudo nele, mas eu amo. Odiava o fato de eu querer namorar com ele, casar com ele, dar pra ele todo o céu o mar e o brilho de cada estrela cafona que enfeita meus olhos enquanto eu cito essa frase brega. Ai que inferno é lembrar da letra de todos aqueles cacetes daquelas músicas dos Tribalistas só em olhar pra ele. Não olhe pra mim e diga que isso é bacana, porque não é.

O amor é legal pra quem vê de fora - não generalizando obviamente, mas - vai dizer que se era amor, você não ficou sem dormir de raiva ou saudade. Chorou sem querer de tristeza ou mágoa. Brigou sem pensar depois ficou na merda. Eu não sou cética nem pessimista nem nada, mas eu creio na realidade dos fatos: Nunca me dei lá muito bem com esse tipo de coisa, e detalhe que não creio que eu vá me dar bem se o eleito for ele. Ele. A abreviação perfeita para "Evil Lives (h)Ere". Mas mesmo assim, arrumei o meu melhor vestido, meu sapato mais caro e o meu orgulho mais oprimido e fui ser a fulaninha dele. Me achando a ultima Fanta uva do pomar por ele ter me dado um ultimo beijo de "vá embora" antes de soltar minha mão no meio da festa.

(the end)

@luiza__

domingo, 30 de maio de 2010

Ele, eu e ninguém que se importe (Parte II)


#se você não entendeu, pequeno detalhe, as partes são narradas de trás pra frente, só pra constar (Y)

Ele com ela, ela com ele, eu sem ninguém, observando tão atentamente um par de suntuosos chifres surgirem simpaticamente em mim, à cada centésimo de segundo em que eu os via. Dramatica e poeticamente falando, é óbvio que não tinham chifres crescendo na minha testa. Eu não tinha nada com ele além de um caso à deriva, após o sonho platônico do rapaz popular que se envolve com a maria ninguém. Socialmente, ele não era nada meu Os chifres não eram externos, não eram expostos, não eram compartilhados com todas as outras dezenas de pessoas que observavam a mesma cena que eu. Mas eu os podia sentir saindo de algum lugar, dentro de mim.

Eu senti vontade de correr, gritar e dar um hundhousekick bem no meio das partes íntimas dele, chutar, pisar, massacrar cada pedacinho. Tornando público seu maior pesadelo, o de ter sua imagem de popularidade intocável manchada com sangue por ter tido qualquer coisa comigo. Eu, a maria ninguém, a sem graça, impopular, a estranha que sentava no canto da sala. E ele lá, tão lindo, tão cheio de si, tão cheio dela, digo assim, literalmente falando, ela quem estava cheia dele se fosse prestar atenção no significado da palavra...

Sem mais o que ver, fui-me embora dele, daquele lugar e de tudo o que ele foi pra mim, por acaso.

- Não vai esperar pra ver o que vai acontecer? - Perguntou uma das meninas pra mim. Não me interessava nada a imagem daquela loira sem graça e sem roupa, até porque as roupas que ela habitualmente usava não deixavam lá muito a não ter sido visto antes. E ele... Bem, não havia nada para ver que eu já não tivesse visto - se é que me entende. Apenas saí sem dar tchau pra ninguém e fui como uma mulher forte e de personalidade que sou, para a minha casa, para a minha geladeira, para os meus chocolates e para a minha vodca, deitar na minha cama, ouvir a minha fossa cantada pela Adriana Calcanhoto e chorar com os textos da Tati Bernardi, enquanto imaginava todas as formas criativamente cruéis de matá-lo lentamente.

(continua no próximo episódio)

sábado, 22 de maio de 2010

Ele, eu e ninguém que se importe (Parte I)

Eu estava lá, sentada no chão da quadra, olhando o vazio tomar conta de tudo. Do ar, do som, do tempo. Até que ele entrou lá outra vez, com todo seu ego preenchendo o espaço entre nós. Devia estar procurando aquela vadia burra que comumente ilustrava a testa dele com dois enormes chifres.

- O que você tá fazendo aqui? Todo mundo já foi embora.

- Nem todo mundo. Você tá aqui, eu to aqui... - Eu o olhei com o máximo de desprezo que um olhar revolto suportaria. Menino bocó, olhando pra mim com uma cara barata de sedução que por certo ele jura que come alguém com essa cantada podre. Ridículo, isso o definiria tanto quanto a tempestade de músculos debaixo de sua pele e sobre seus ossos. O cabelo dele era ruim, por isso ele deixava tão curto, haviam cravos por todo o nariz e as olheiras eram tão profundas, mas tão profundas que eu acho que ele não dorme tem uns dois meses. Menino feio, estranho, amostrado, tosco, metido, exibido, sunguelo, descabido, retardado.

- Jura? Nem percebi. - Lesado. Pensei voltando meu olhar pro chão, mas não concluí a frase. Não que eu seja do tipo que esconde o que pensa ou só fala por conveniência, apenas escondi o vocativo por educação, até porque eu não queria ser bronca, mesmo ele merecendo.

Me apoiei com as mãos no chão e levantei dalí, visando sair o mais rápido possível do mesmo raio de oxigênio que ele, me intoxicando à cada metro cúbico partilhado. Ele deu mais alguns passos e ficando próximo de mim. Mais, bem mais do que eu gostaria. Menino burro, que parte da linguagem corporal ele não entende? Meu corpo tava quase fazendo mímica para "RALA PEITO, BOCÓ" e aquele retardado não entendia. Ele queria o quê?! Um desenho?

- Eu percebi... Gostei de te ver jogar. - A anta mór observou.

- Bom saber que você tava torcendo pro outro time, se você não percebeu, perdemos... - Cretino, continuou olhando pra mim como se eu fosse um pedaço de picanha em exposição num açougue barato, então eu me manifestei. - Olha, você não tem nenhuma peguete loira e fútil pra torrar os neurônios que ela não tem ao invés de vir encher-me a paciência com todas essas suas cantadas ensaiadas? Eu tenho mais o que fazer...

Tentei fazer a saída dramática pelo portão esquerdo mas o infeliz me segurou o pulso e provocou um rebuliço não-habitual no meu intestino.

- Eu também senti saudade, meu amor. - Eu me imaginei enfiando um canudo pela orelha dele e tirando-o pelo nariz adunco e cheio de cravos indignantemente oleosos. Eu me imaginei decepando suas partes íntimas com uma faca prazeirosamente cega e enferrujada, para que ele contraísse tétano e morresse em coma por isso. Mas só o que eu tinha como possibilidade era meter-lhe a mão na cara. E falando em cara, aquele bulso peludinho seboso de moto-taxista que tinha, ele JURAVA era bonito. E o pior que era.

Sem cogitar a possibilidade de pensar uma segunda vez, sentei-lhe uma mãozada na fuça, com tanta força, mas com tanta força que o desenho dos meus dedinhos se sustentaram vermelhos por algum tempo alí.

- Que bom que sentiu. - Sorri, maldosa. E saí, deixando ele, o ego dele e a merda lá, todos juntos.

domingo, 9 de maio de 2010

Nota de agradecimento ao parto e outras coisas além disso


Obrigada às Terezas, Rejanes, Adrianas, Larissas, Marias, Solidades, Jussaras, Jaquelines, Catarinas, Giovanas, Iraneides, Luzias, Marizas, Dianas, Loudinhas, Suzanas, Audenira, Isabeles, Verônicas, Franciscas, Rafaelas, Joanas, Danielas, e também à todas as outras genitoras as quais se dedica este domingo tão especial.

Obrigada pelas chineladas, gritos e beliscões discretos em função dos nossos maldosos comentários. Obrigada por falar mal das roupas que gostamos, das músicas que ouvimos e dos amigos não muito normais que arrumamos. Obrigada por dizerem "Eu não disse!?" toda vez que alguma mazela nos acontece, e por terem o dom de prever desgraças (e nós só nos damos conta disso depois que a merda tá feita). Obrigada por virem nos limpar quando a gente gritava "Mãaaae, terminei!" e por passar Merthiolate nas nossas perebinhas pueris e ter certeza que comprou do que ardia pra que aprendêssemos a lição. Obrigado pelos "Você é novo de mais pra ir a uma festa, volte antes da meia-noite!" ou "Você não acha que é grandinha demais pra fazer esse tipo de coisa?", nós sabemos que, pra vocês, paramos no tempo, nem pequenos, nem grandes de mais pro seu amor e não é que "Tudo seja mais difícil" pra vocês, nós só não queríamos ensinar como se dá Ctrl+C Ctrl+V dezoito vezes . Obrigada por segurarem nossos pés no chão quando a nossa cabeça estava nas nuvens.

Obrigada pelas ameaças, castigos e recompensas comandadas de acordo com as notas do boletim e pela preocupação com o nossa integridade física, já que a moral vocês normalmente fazem questão de destruir quando conversam com nossos amigos e namorados(as), ou quando escolhiam nossos cortes de cabelo Channel, Indiozinho ou Chitãozinho e Xororó nos casos mais extremos. Obrigada por nunca aprender as letras das músicas direito, mesmo que isso nos irrite, nós amamos corrigí-las. Obrigada por terem TOC e quererem o NOSSO quarto arrumado do SEU jeito e pelas meias que eu nunca aprendi a dobrar. Obrigada pela paciência com a nossa adolescência e por nos deixar torrar seus juízos por pirraça. Obrigada por dizer com os olhos o que as palavras não as permitem pronunciar e pelo seu abraço displicente numa manhã de domingo. Obrigada pelos conselhos que a maioria de nós não segue, pelas noites em claro nas infecções intestinais, e dengues, e viroses, e etc. Obrigada por nos acordar pra escola ou pro trabalho escravo, por nos amar mesmo quando não merecemos e obrigada por serem as sogras de nossos namorados.

Obrigada por nos mandarem tomar banho, escovar os dentes e pentear o cabelo (mesmo que alguns de nós não o façam tão constantemente assim). Obrigada por nos dizer que só sujamos a farda da escola porque não é a gente quem lava. Obrigada por tentarem ser as melhores do mundo e independente das falhas ainda conseguirem. Obrigada pelos ataques megera dignas de novela, mas terem seus dias de boa com a vida. Obrigada por acharem defeito em tudo o que fazemos, questionarem os cursos que escolhemos pra prestar vestibular e pelas crises dramáticas com a clássica revolta: "Eu só quero saber quando eu morrer, como é que você vai fazer isso sem mim?!", sabemos que é só porque não querem que nós morramos de fome ou pobres largados desempregados na sarjeta e longe de você, mamãe. Obrigada por não desistirem de nós mesmo às vezes não dando a vocês o valor merecido. Valeu por não nos deixarem da mão e por nos ensinarem a rezar antes de dormir.

Obrigada às Clarisses, Marianas, Ludimilas, Erivânias, Das Dores, Das Luzes, Taíses, Joelmas, Aílas, Maísas, Iaras, Emílias, Iracemas, Jacys, Jucys, Ritas, Goretes, Lílians, Priscilas, Sandras, Graças, Margaretes, Patrícias, Bernadetes, Martas, Geraldas, Fernandas, e todas as outras as quais não há só este dia no ano, mas todos os outros também, se dedica o amor maior. Amamos vocês.

Feliz dia das Mães.

@luiza__ & @JonaasF