domingo, 6 de setembro de 2009

O domingo, o sítio e o inferno da pedra


Não há nada melhor que o domingo de manhã, preguiçoso de cobertores acolhedores, onde o plano é dormir até as quatro da tarde – principalmente depois de ter ido dormir quase no fim da madrugada por motivos de força maior, como por exemplo, uma micareta bombando no centro da cidade, com o som bombando ainda mais, fazendo parecer que a tal micareta era dentro do meu quarto. Mas tudo bem, ao menos a banda era boa. Voltemos ao tal domingo de manhã – preguiçoso, com você no melhor dos seus sonhos, na hora daquele melhor cochilo mor, ai ai... Sua mãe abre a porta num estrondo imenso e grita: “Acorda, deixe pra dormir quando estiver na cadeia! Nós vamos para o sítio!” e lá se vai meu domingo.


Já são quase 17 anos falando, mas, ou minha mãe é surda, ou ela simplesmente é masoquista, ou adora me ignorar, ou é disléxica mesmo: Eu ODEIO sítios, fazendas, ranchos, ou qualquer coisa do tipo que me lembre mato! Pedaços de terra desprevenidos de civilização eletrônica básica tipo um sinal de celular, tendem a ser, pra mim, um estágio do inferno, no mínimo.


Era o aniversário de uma amiga, filha da madrinha da minha tia que fez redução de estômago, ta grávida e vai se casar no fim do mês. E todo mundo sabe que nesses tipos de “confraternizações” sempre tem cada uma...


Tem sempre um carro de som, com a mala aberta em direção à casa, rolando de Fagner e Amado Batista ao forró tecno-brega do Deja-vú, sem falar no pagode.


Tem sempre um churrasqueiro cachaceiro que ou é míope, ou tava bêbado demais, ou queria mesmo que todos os presentes convidados pegassem algum tipo de doença infecciosa de origem bovina, somente por respirar perto de sua picanha (TÃO) mal-passada que você ainda conseguia sentir a dor do pobre animalzinho à medida que mordia um pedaço e sentia o sangue dele escorrer através da sua garganta.


Tem sempre aquele cara que, depois de ter o rabo imerso em cana, começa a contar aquelas piadinhas desgraçadas num volume maior que o do som. Vamos chamá-lo de Aléx (o chamaremos assim porque esse é mesmo o nome dele), ao som de Espumas ao vento numa versão de forró pé-de-serra, urrava piadas sobre o pau de num sei quem, discursando em cima de um tamborete. Aléx – o marido da irmã da amiga da minha mãe, filha da madrinha da minha tia que fez redução de estômago, ta grávida e vai se casar no fim do mês – após umas 300 latinhas de cerveja, 1200 piadas desprovidas de humor, desabou num sofá recostado à parede e apagou, deixando o ambiente menos pornográfico e barulhento.


Tem sempre aquele povo que fica na cozinha o tempo todo, pigorando todos e cada um dos pratos que passam na frente, pra tirar a barriga da miséria. Fazendo parecer que não comem há três dias e três noites.


Ah, tem sempre aquele grupinho de jovens com idade entre 17 e 20 anos, filhos dos convidados e convidados da filha da aniversariante, aquele velho grupinho que reflete a juventude de uma sociedade interiorana: As garotas com roupas e óculos praticamente iguais, que só mudava na cor e na marca de uma pra outra, com seus copos de bebida alcoólica na mão, com seu ForróVaquejada&Cabaré lifestyle, comentando os babados e fuxicos da micareta do dia anterior e combinando quantos bofes iam pegar na de hoje, resumindo, a degradação psico-intelectual da raça humano-seridoense.


Se bem que tem sempre um lado bom em tudo, como todo aniversário que se preze, tem sempre um bolo enorme, suntuoso e delicioso em creme, chantily e chocolate para te engordar 4 quilos só de você olhar pra ele... Afinal, eu podia estar matando, roubando ou me prostituindo neste domingo ensolarado, mas não estou. Uma vez que sempre tem algo pior pra acontecer, como por exemplo, ser acordada antes das dez da manhã pra ir pagar de otária num aniversário lá no inferno da pedra, onde você não conhece ninguém!


beijosnãomeliga :*


{vírgula} n

4 comentários:

  1. não tenho nenhuma lembrança interessante de um dia desses. não sei por que...

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  2. Aproveitando o insight, o domingo é apenas aquele diazinho que se tira para refletir: "Cara&*¨@! Já acabou essa bagaça de finde". No caso, amanhã por ser feriado, rola um flashback: "Cara*&¨%, quando vai ter feriado de novo?" E aproveitando a deixa, adoro festinha de parentes: analisar a vida chique and brega dos amigos e amigos dos amigos dos parentes é o que há. A maldade reina. (Um pouquinho). Beijos, adorei o blog ;D

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  3. e quem não há de viver uma situação dessas neste morango que é nossa vidinha pacata e toscana nesse fim de mundo onde nos escondemos? Obrigada pelos elogios Japinha :D

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  4. Foi nesse domingo que eu descobri como sou boa de cama... acordei ao meio dia, fui almoçar, quando voltei pra casa, deitei e rolei da cama. Dormi que foi uma beleza. Acordei às 19 horas pensando em ir dormir de novo. Sim, estou fazendo inveja.

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